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A obesidade é uma das doenças que mais cresce no Brasil. Dados divulgados pelo SISVAN (Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional), do Ministério da Saúde, que tem como objetivo principal promover informação contínua sobre as condições nutricionais da população e os fatores que as influenciam, apontam que 34,66% da população está com algum nível de obesidade. Os dados são referentes ao ano de 2024, quando foram avaliados 26.248.805 milhões de pessoas.

O levantamento inédito, aponta que o número de pessoas com obesidade mórbida ou índice de massa corporal (IMC) grau III, acima de 40 kg/m², atingiu 1.161.831 milhões de pessoas no ano passado ou  4.63%; o número de pessoas  com obesidade grau II soma 2.176.071 milhões de pessoas ou 8.67% da população e com obesidade grau I atinge 5.348.439, representando 21.31% da população. As informações públicas estão sendo divulgadas pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) na data alusiva e que marca a importância do combate à obesidade entre adultos e crianças,  4 de março, Dia Mundial de Combate à Obesidade.

O número de pessoas com obesidade em 2024 supera os anos de 2023, 2022, 2021, e 2020 que podem ser consultados via internet. A pesquisa – realizada por abrangência, região de cobertura, fase da vida, sexo, raça/cor, origem do registro, entre outras –  está disponível por município, região e regional de saúde, para todo o Brasil.

O presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica  (SBCBM), Juliano Canavarros, diz que o Brasil é hoje um dos países com a mais alta taxa de pessoas com obesidade no mundo.

Queda nas cirurgias bariátricas 

Segundo levantamento da SBCBM, entre 2020 e 2024, o Brasil realizou 391.731 mil cirurgias bariátricas, sendo 260.380 cirurgias, segundo dados da Agência Nacional de Saúde (ANS – até 2024), através dos planos de saúde; e 31.351 procedimentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O número de cirurgias particulares gira em torno de 10 mil procedimentos.

No acumulado dos últimos quatro anos, houve um crescimento em 42,4% no número de cirurgias bariátricas. No entanto, se comparado o ano de 2023 com o ano de 2024 a redução foi de 18% no número de pessoas com obesidade grave beneficiadas pelo procedimento.

“Importante ressaltar que alguns estados e municípios do Brasil possuem ações locais para a realização de cirurgia com recursos próprios e que acabam não sendo contabilizados pelo Datasus ou ANS”, informa o presidente da SBCBM, Juliano Canavarros.

Ele reintera que é preciso unificar a informação no país.

“Mas ainda assim, se formos avaliar a proporção de pessoas com indicação para a cirurgia bariátrica – em diferentes níveis de obesidade – , o número de procedimentos não representa 1% dos pacientes que tiveram acesso ao tratamento no país”, enfatiza Canavarros.

O Brasil conta atualmente com 7.700 hospitais, em 5.568 municípios brasileiros. Destes, apenas 98 serviços realizam a cirurgia bariátrica e metabólica, sendo que quatro estados brasileiros não oferecem o procedimento. Atualmente Amazonas, Rondônia, Roraima e Amapá não possuem serviços habilitados no SUS para bariátrica.

Nova proposta para medir a obesidade

Obesidade é o excesso de peso pelo acúmulo excessivo de gordura corporal. A obesidade é classificada, até o momento, utilizando  o índice de massa corporal (IMC), que é a relação entre o peso corporal e a estatura. Considera-se sobrepeso quando está acima de 25 Kg/m2 e obesidade se o IMC for maior ou igual a 30 Kg/m2. A classificação da obesidade é feita da seguinte forma: Grau I: IMC entre 30 e 34,9; Grau II: IMC entre 35 e 39,9 e Grau III: (obesidade mórbida): IMC acima de 40.

Uma nova proposta, publicada no jornal científico The Lancet Diabetes & Endocrinology em janeiro de 2024 e endossada por 75 organizações médicas ao redor do mundo, apresenta uma nova forma de abordar e diagnosticar a obesidade. O trabalho propõe utilizar outras estratégias além do Índice de Massa Corporal (IMC), como medidas de gordura corporal e sinais e sintomas objetivos de problemas de saúde.

Eles sugerem a confirmação do excesso de massa gorda e sua distribuição pelo corpo utilizando um dos seguintes métodos:

  • Pelo menos uma medição do tamanho corporal (circunferência da cintura, relação cintura-quadril ou relação cintura-altura) em complemento ao IMC;
  • Pelo menos duas medições do tamanho corporal (circunferência da cintura, relação cintura-quadril ou relação cintura-altura), independentemente do IMC;
  • Medição direta da gordura corporal (como por meio de densitometria óssea ou DEXA), independentemente do IMC;
  • Em pessoas com IMC muito alto (por exemplo, >40 kg/m²), pode-se presumir pragmaticamente a presença de excesso de gordura corporal.

Indicação e como é feita a cirurgia

Os critérios previstos nas portarias 424 e 425 do Ministério da Saúde para realização da cirurgia bariátrica pelo SUS são Índice de Massa Corporal (IMC) de 40 Kg/m², com ou sem comorbidades, sem sucesso no tratamento clínico por no mínimo dois anos e que tenham seguido protocolos clínicos. As portarias também permitem a indicação para cirurgia bariátrica de pacientes com IMC > 35 kg/m2 e comorbidades com alto risco cardiovascular, diabetes e/ou hipertensão arterial de difícil controle, apneia do sono, doenças articulares degenerativas ou outras que não tenham tido sucesso no tratamento clínico.

A cirurgia bariátrica é um dos principais tratamentos para a obesidade severa ou mórbida e pode ser realizada por meio de diferentes técnicas cirúrgicas, sendo o bypass gástrico e a gastrectomia vertical as mais utilizadas. 

A cirurgia bariátrica tem como principal objetivo ajudar o paciente a emagrecer, mas também traz outros benefícios como a melhora das comorbidades como diabetes, hipertensão arterial e dislipidemia, além da melhora da qualidade de vida. “O paciente precisa seguir um programa multidisciplinar de acompanhamento, que envolve mudanças na alimentação, prática de exercícios físicos e cuidados com a saúde mental”, completa Canavarros.

Cirurgia bariátrica x Novos medicamentos

A ascensão dos medicamentos inovadores para o tratamento da obesidade, em especial os agonistas do receptor GLP-1 – como a semaglutida e a tirzepatida – tem gerado debates intensos na comunidade médica e entre pacientes sobre a indicação das novas drogas.

Estudos recentes indicam que os agonistas do GLP-1 podem resultar em uma perda de peso de aproximadamente  15% a 20% do peso corporal inicial. Embora esses números sejam promissores, a cirurgia bariátrica, especialmente procedimentos como o bypass gástrico, demonstrou uma redução de peso mais substancial, variando entre 25% e 35%, com a manutenção dessa perda por mais de uma década. Já os pacientes que interrompem o uso dos medicamentos podem recuperar até a metade do peso perdido ainda dentro do primeiro ano.

Além disso,  embora os agonistas do GLP-1 melhorem o controle glicêmico, sua eficácia na remissão completa do diabetes e outras comorbidades ainda é limitada e requer mais investigação a longo prazo. Em contrapartida, estudos apontam que até 80% dos pacientes submetidos ao bypass gástrico experimentam remissão do diabetes tipo 2, enquanto a hipertensão arterial pode melhorar ou desaparecer em mais de 60 a 70% dos casos. 

Outro fator importante  a longo prazo é o custo das novas drogas. Uma meta-análise revelou uma redução de aproximadamente 70% nos custos médicos pós-cirurgia, atribuída à diminuição da necessidade de tratamentos contínuos para comorbidades associadas. Em contraste, os medicamentos agonistas do GLP-1 apresentam um custo anual elevado, chegando a R$24mil. 

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