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Representantes das principais Sociedades Médicas do país que atuam no cuidado do paciente com Diabetes Tipo 2 (DT2) reuniram-se na última sexta-feira (15), em São Paulo, para discutir o cenário da DT2 e os novos tratamentos – medicamentosos, com as novas drogas que surgem no mercado, e cirúrgicos, por meio da cirurgia metabólica que apresenta evidências científicas de estudos recentes realizados no mundo.

O Diabetes Tipo 2 é visto pelos especialistas como uma epidemia global devido ao elevado no número de pessoas com a doença, que  já atinge cerca de 14 milhões no Brasil.

Segundo dados apresentados por médicos e cirurgiões, devido a escassez de sintomas na fase inicial da Diabetes, cerca de 50% dos pacientes  desconhecem o problema, e pelo menos a metade dos pacientes que estão em tratamento não atingem um controle adequado dos seus níveis de açúcar no sangue.

O Workshop “Novas Fronteiras no Tratamento de Diabetes Tipo 2”, foi promovido pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica  (SBCBM) e contou com a presença de representantes de 12 sociedades médicas. Participaram das discussões as Sociedades Brasileiras de Diabetes, Cardiologia, Nefrologia, Oftalmologia, Endocrinologia, Cirurgia Vascular, Hepatologia, e Nutrologia. Compareceram também as entidades dos cirurgiões Sociedade Brasileira de Cirurgia Minimamente Invasiva (Sobracil), Colégio Brasileiro de Cirurgiões (CBC) e Colegio Brasileiro de Cirurgia Digestiva (CBCD).

De acordo com o presidente da SBCBM, Marcos Leão Vilas Boas, o objetivo do Workshop foi promover a troca de experiências entre as especialidades que atuam no tratamento clínico e suas complicações, juntamente com os médicos que atuam no tratamento cirúrgico do paciente.

A Cirurgia Metabólica, regulamentadas pelo CFM desde 2017, passou a ser indicada como opção no tratamento  diabetes mellitus Tipo 2 (DM2) para pacientes que possuem Índice de Massa Corporal entre 30 Kg/m2 a 35 Kg/m2.

“O evento foi uma oportunidade para compartilharmos com as outras especialidades os resultados de estudos científicos de grande impacto que têm demonstrado não apenas o controle na doença, mas uma acentuada redução nas taxas de complicações sobre a visão (retinopatia), rins (nefropatia) e nervos periféricos (neuropatia), bem como nas complicações macrovasculares que se traduzem em derrame e infarto do miocárdio. O resultado maior disso é redução na mortalidade e melhora da qualidade de vida”, afirmou  Marcos Leão.

A DIABETES EM DIFERENTES PATOLOGIAS

Cardiologia – O presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), Oscar Dutra, disse que a avaliação dos cardiologistas é preocupante, já que devido a sua prevalência há a perspectiva de que o Brasil tenha, em um curto espaço de tempo, cerca de 25% da população adulta com diabetes do tipo 2.  “E esse é um fator de risco desencadeador de eventos cardiovasculares como acidente vascular cerebral (AVC), infarto do miocárdio e amputações”, elencou.  Segundo ele, existem 387 milhões de diabéticos no mundo e este número deve chegar a 592 milhões em 2035.

“Em 2014 a diabetes causou a morte de Diabetes causou a morte de  4,9 milhões de pessoas no mundo, sendo a doença cardiovascular a principal causa da mortalidade. É importante lembrar que a Diabetes dobra o risco de mortalidade”, afirmou o presidente da SBC.

“Nós vamos ter uma epidemia de diabetes dentro do Brasil extremamente preocupante. Isso traz um ônus para o erário público porque o atendimento básico dessa população se faz às custas do Sistema Único de Saúde (SUS). Eu rotulo com preocupação e alerto os órgãos públicos para que se busquem maneiras de coibir o crescimento desse problema da obesidade e consequentemente de diabetes”, afirmou.

Oftalmologia – A presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO), Edna Almodin, destacou os dados sobre cegueira não traumática e perda de visão irreversível, ambas na grande maioria, causada pelo diabetes. “Para a oftalmologia é fundamental o estudo do diabetes e suas consequências, já que a nossa relação com o mundo depende em 80% da nossa visão”, afirmou Edna.

Hepatologia – O Presidente da Sociedade Brasileira de Hepatologia, Paulo Bittencourt, contou que existe uma forte associação entre o diabetes e a hepatite C – doença que acomete cerca de 1 milhão de brasileiros, de evolução assintomática. “O risco de um paciente diabético ter hepatite C é de 4 a 10%. Muito diferente dos riscos da população brasileira em geral, cuja prevalência é de 0,7 a 1%”, alertou Paulo.

Outro aspecto importante, segundo ele, é a associação do diabetes com a doença hepática mais emergente, que é a doença hepática gordurosa não alcoólica, conhecida como esteatose. A gordura no fígado é observada em exames de rotina, como o uso do ultrassom e, em alguns pacientes, pode evoluir para a cirrose hepática no longo prazo. “É uma doença que tem tratamento e está fortemente associada não só ao diabetes, mas a outros fatores como, por exemplo obesidade, resistência a insulina, glicemia alterada e a síndrome metabólica”, ressaltou.

O tratamento para doença hepática gordurosa não alcoólica prevê a perda de peso atividade física e dieta. “Embora pareça simples, os resultados comprovam que a maior parte dos pacientes não consegue manter hábitos saudáveis a longo prazo. Por outro lado, aqueles submetidos a cirurgia metabólica, para controle do diabetes ou da obesidade mórbida, apresentam comprovadamente melhora da doença hepática gordurosa não alcoólica e até mesmo redução da fibrose hepática, que é a essência da cirrose”, afirma.

Cirurgia Vascular –  O presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, Roberto Sacilotto, apresentou dados sobre as taxas de amputações  ocasionados por problemas circulatórios e descontrole do diabetes. “Foi um encontro muito interessante do ponto de vista de atualização geral do diabetes. Sabemos que melhorando a glicemia, vamos reduzir as chances de problemas vasculares periféricos e as taxas de amputações”, reforçou .

Nefrologia – O Diabetes Tipo 2 é a primeira causa de doença renal crônica no país, de acordo com o Diretor do Departamento Científico da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN),  Vinicius Delfino. “O nefrologista muitas vezes é chamado a atuar em uma fase tardia da doença, quando já se tem uma evidência clara da nefropatia nesses pacientes”, contou.  Para ele, existem muitas perspectivas para o tratamento. “A mudança no estilo de vida é um ponto fundamental, e a aderência aos medicamentos é outro. Mas para que o desfecho seja melhor, tendo em vista que existem boas drogas e a possibilidade de intervenções cirúrgicas, se faz necessária uma ação integrada entre cirurgiões e clínicos”, apontou.

Tratamentos x Controle  – A endocrinologista Tarissa Petry, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, trouxe um panorama do Diabetes Tipo 2 no Brasil. “Os estudos mostram que temos 50% menos de controle dos pacientes com diabetes no mundo e no Brasil. Apesar de todos os tratamentos, como a modernização e o lançamento de novos remédios, ainda temos dificuldades de controlar as complicações da doença e de garantir a adesão dos pacientes que, na maioria dos casos, não toma a medicação regularmente”, afirma. Para ela, a preocupação atual deve ser voltada para novas estratégias e a cirurgia metabólica pode ser uma delas. “Realmente a cirurgia é uma opção para esses casos de pacientes que estão descompensados e evoluindo mal, apesar do tratamento clínico. É importante termos alternativas mais efetivas para diminuir complicações, para melhorar a qualidade de vida e diminuir a mortalidade”, relatou.

A representante da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), endocrinologista Sylka Rodovalho, avaliou o tratamento farmacológico do DBT2. “Os novos remédios que estão no mercado, os inibidores da SGLT2 e os análogos do GLP1, mostraram diminuição da mortalidade geral e dos desfechos. Apesar dessas novas medicações já estarem no mercado, a população não tem acesso ainda por questão custo. Mas até mesmo em países mais desenvolvidos, ainda não vimos uma melhora no controle do diabetes porque a porcentagem das pessoas que estão conseguindo usar essas novas medicações é pequena para dar um impacto final nos resultados”, analisou.

A médica destacou que existem grupos diferentes de pacientes, entre eles, os que possuem mais deficiência em insulina, os que têm o processo mais ligado a autoimunidade, os mais resistentes e aqueles que têm dificuldade para perder peso. “Conhecer esses subgrupos e entender como o diabetes se desenvolve será uma arma para selecionarmos o melhor tipo de tratamento que devemos indicar, seja medicamentoso ou cirúrgico”, afirmou.

A representante da Sociedade Brasileira de Endocrionologia e Metabologia (SBEM), e endocrinologista do Hospital Sírio-Libanes, ÉriKa Parente, disse que a evolução do paciente com diabetes mal controlado continua a mesma. “Se ele não controlar ele vai evoluir para um infarto, doença arterial periférica, retinopatia, nefropatia e assim por diante”, enfatizou.

Ela acredita que os novos medicamentos para o tratamento do diabetes têm apresentado diferença no controle glicêmico, cardiológico e renal. “No entanto, a população do sistema público ainda não tem acesso a esses medicamentos”, relatou.

Para Érika a discussão entre especialidades que atuam no tratamento de pacientes com Diabetes é de extrema relevância para que se possa entender melhor a doença e ver quais os melhores tratamentos para uma determinado tipo de paciente. “Um vai se beneficiar da cirurgia, outro vai se beneficiar do medicamento. Essa é a importância de estarmos todos juntos para e individualizarmos o melhor tratamento para cada paciente”, ponderou.

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