A Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) encerrou no último dia 29 de outubro, em Salvador, a 22a edição do seu congresso anual com recorde de público.
Cerca de 2.500 profissionais que atuam no tratamento cirúrgico da obesidade e das doenças metabólicas passaram pelo Centro de Convenções de Salvador, durante os três dias do XXII Congresso Brasileiro de Cirurgia Bariátrica e Metabólica.
Cinco cursos, três simpósios e 220 palestras fizeram parte da programação, que contou com 15 convidados internacionais. Na programação estudos e temas mais atuais no que se refere ao tratamento para excesso de peso, entre eles a cirurgia robótica, cirurgia em extremos de idade (idosos e adolescente), abordagens para acompanhamento nutricional, condutas de saúde física e mental, como atender o paciente bariátrico que chega para uma emergência, entre outros temas. O Congresso também teve participação recorde de mulheres cirurgiãs, endocrinologistas, profissionais de educação física, psicólogos, psiquiatras e nutricionistas.
“Realizamos um dos maiores Congressos do Mundo em número de participantes e de temas em debate. Sucesso total”, afirmou o presidente da SBCBM, Fábio Viegas.
Obesidade no Brasil e na Bahia
Os dados mais recentes apontam que cerca de 88,1% da população terá sobrepeso ou obesidade até 2060. Já os gastos, diretos e indiretos com as doenças associadas à obesidade, são estimados em US $218 bilhões. Um novo estudo, publicado na revista científica BMJ Global Health, avaliou os impactos econômicos do excesso de peso em 161 países.
A estimativa dos pesquisadores é de que esse montante representará 4,66% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro em 2060, o 48º maior percentual entre os países analisados. De acordo com o estudo, em 2019 a prevalência de sobrepeso e obesidade no Brasil era de 53,8% da população e gerava impacto econômico de US$ 37,1 bilhões (cerca de R$190 bilhões).
“É comprovado nos consultórios que grande parte dos pacientes com histórico de excesso de peso e doenças associadas à obesidade, apresentaram uma piora do seu quadro clínico após a pandemia. Neste Congresso, reunimos os maiores especialistas do mundo para debatermos novas estratégias de conduta e tratamento”, afirmou o vice-presidente da SBCBM, Antônio Carlos Valezi.
Número de Cirurgias bariátricas
Paralelamente ao aumento da obesidade, durante a pandemia, houve uma queda no número de cirurgias bariátricas no Brasil, devido a suspensão dos procedimentos. Com isso, muitos estados tiveram suas filas de espera ampliadas.
Nos últimos cinco anos foram realizadas 311.850 mil cirurgias bariátricas pelos planos de saúde e pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Destas 252.929 cirurgias, segundo dados da Agência Nacional de Saúde (ANS), foram realizadas através dos planos e 14.850 foram feitas de forma particular.
Deste total, 44.093 procedimentos foram realizados pelo SUS (Sistema Único de Saúde), sendo apenas 115 procedimentos realizados na Bahia neste mesmo período, conforme dados do DATASUS.
O presidente da comissão organizadora local do Congresso na Bahia, o cirurgião Marcos Leão Vilas Bôas, acredita que a realização do evento na capital baiana, além de reunir grandes nomes, chama atenção para a importância de aumentar o acesso ao tratamento para a população da região. “A cirurgia por videolaparoscopia, por exemplo, foi incorporada apenas no ano passado pela rede pública e representa um grande avanço. Isso porque, desde 1999 realizamos a cirurgia por vídeo, enquanto no sistema público era feita de forma aberta, que implica em uma maior tempo de recuperação e mais chances de complicações nos pacientes com obesidade grave”, reforça Marcos Leão, que ao seu lado teve os cirurgiões Álvaro Albano e Osiris Cassais.
Tratamento cirúrgico da obesidade
As doenças relacionadas à obesidade são responsáveis por mais de 4,7 milhões de mortes em todo o mundo a cada ano, metade das quais ocorrem entre pessoas com menos de 70 anos de idade.
“A Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica já sente os impactos desta tendência de aumento da obesidade. A troca de experiências científicas entre os profissionais é fundamental para ampliarmos as condutas de atendimento do nosso paciente”, afirma o presidente da Comissão Científica do Congresso, Juliano Canavarros, que coordenou os trabalhos juntamente com os cirurgiões Felipe Rossi e Guilherme Bassols.
Atualmente, a gordura no fígado causada pela obesidade é a principal causa de cirrose e outras lesões no órgão. Estima-se que 25% da população adulta com excesso de peso apresente algum nível da doença, que se agrava conforme o Índice de Massa Corporal (IMC) aumenta. Não existe tratamento para a redução da gordura no fígado e a única maneira de controlar a doença e evitar a evolução para cirrose, ou até mesmo câncer de fígado, é perder peso e melhorar dieta.
“A obesidade, além da sobrecarga do peso, traz outros problemas de saúde como a hipertensão, o diabetes, problemas cardiovasculares e pode até aumentar o risco de alguns tipos de câncer se não houver um controle adequado. Entre estes tratamentos está a cirurgia bariátrica, considerado o método mais eficaz até o momento para controle da obesidade em seus níveis mais graves”, explica o vice-presidente executivo da SBCBM, Luiz Vicente Berti.
As regras para indicação da cirurgia bariátrica e metabólica deverão mudar no Brasil, a partir de 2023. As novas diretrizes – já em discussão no Conselho Federal de Medicina (CFM) – irão ampliar os critérios de indicação do procedimento para pacientes com IMC (Índice de Massa Corporal ) a partir de 35 kg/m², sem a presença de qualquer doença. A cirurgia metabólica também poderá ser indicada para pacientes com diabetes fora do controle e IMC maior que 30.
As novas diretrizes foram publicadas, recentemente, pela Federação Internacional para a Cirurgia da Obesidade e Distúrbios Metabólicos (IFSO), que representa 72 associações e sociedades nacionais em todo o mundo e pela Sociedade Americana de Cirurgia Metabólica e Bariátrica. Hoje, as cirurgias bariátricas podem ser feitas em pacientes com Índice de Massa Corporal (IMC) entre 30 e 35, com diabetes tipo 2 sem controle há mais de dois anos, pacientes com IMC acima de 35 – desde que tenham outras doenças associadas ao excesso de peso como hipertensão, apneia do sono, esteatose hepática (gordura no fígado) e outras. Já para pacientes sem outras doenças, é preciso ter IMC acima de 40.