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A Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) recebeu, na noite desta terça-feira (17), o psiquiatra Hélio Tonelli e a nutricionista Maria Gabriela Esteves, com a moderação do cirurgião bariátrico Felipe Rossi, para debater sobre as mudanças na experiência alimentar após a cirurgia bariátrica.

O bate-papo faz parte da programaçãodo Barilive, transmitido semanalmente às terças-feiras, a partir das 20 horas, pela página oficial da SBCBM no Facebook. A iniciativa tem como objetivo informar a população sobre os temas relativos à cirurgia bariátrica e difundir os conhecimentos que envolvem o assunto.

De acordo com a nutricionista pós-graduada em nutrição clínica e especialista em suplementação nutricional Maria Gabriela Esteves, a dieta líquida e pastosa, obrigatória nas primeiras semanas após a cirurgia bariátrica, promove uma limpeza no paladar de todos os químicos presentes na comida industrializada.

“A gente desacostuma de certos temperos e aditivos que acabam viciando. Depois dos 30 dias, o paciente não tem essa lembrança. Eu sempre falo ‘aproveite essa mudança para que você se acostume com alimentos novos e saudáveis’ porque realmente muda a sensação desse sabor”, explica.

As mudanças promovidas pela cirurgia bariátrica não ocorrem apenas no aspecto nutricional. Segundo o psiquiatra mestre em farmacologia Hélio Tonelli, os obesos apresentam alterações em regiões do cérebro responsáveis por processar os estímulos ligados ao prazer e que essas mudanças são revertidas após a cirurgia bariátrica.

“A cirurgia bariátrica provoca diversas mudanças fisiológicas no cérebro e na mente do paciente e isso faz com que as preferências alimentares mudem. É um processo que começa quase que imediatamente após a cirurgia”, afirma o psiquiatra.

Durante a discussão, os especialistas reforçaram a ideia de que a comida está ligada a prazeres, ambientes, comemorações sociais mas que isso merece cuidados, principalmente, com relação a quantidade de alimento e mastigação para evitar prejudicar a proposta da cirurgia e da perda de peso.

Mudanças de hábitos no pós-operatório

Segundo Tonelli, as alterações no cérebro de pacientes obesos fazem com que ele regule as emoções por meio de comidas calóricas. Após a cirurgia bariátrica, o cérebro pode inserir novos mecanismos de controle dessas emoções como a atividade física, por exemplo.

“Se o sujeito está triste, ele come. Se está ansioso, ele come. Até um ponto em que ele está feliz e está comendo. A cirurgia bariátrica vai fazer com que esse mecanismo seja revisto e que outros mecanismos sejam inseridos. A atividade física é fundamental. O sujeito que opera precisa entender que a atividade física vai ter um impacto parecido como o da comida e ele precisa ter a experiência e oportunidade de ver isso”, argumenta.

A qualidade nutricional do paciente também foi abordada no debate. De acordo com Maria Garbriela, pacientes acabam substituindo alimentos ricos em nutrientes e vitaminas por produtos industrializados levando em consideração apenas as calorias.

“A gente não pode esquecer, em hipótese alguma, a qualidade nutricional. ‘Eu comi um brigadeiro e tem as mesmas calorias de uma maçã’. Isso não pode passar por um paciente bariátrico. A gente precisa ter um equilíbrio e qualidade”, explica a nutricionista.

“Isso vai impactar não só no ganho de peso, mas também na qualidade de vida. O paciente vai ter tendência a ter déficit de vitamina, de ferro, de neurotransmissores…”, lembra Dr. Felipe Rossi.

Evasão no acompanhamento multidisciplinar

Os especialistas reforçaram a importância do acompanhamento com profissionais de diversas áreas que atuam no tratamento da obesidade após a cirurgia bariátrica e que são membros da equipe multidisciplinar.

“Esse paciente [que apresenta recidiva], geralmente, é aquele que se perdeu emocionalmente. É o que deixou de usar a suplementação, terminou um casamento, não tratou compulsão, perdeu emprego ou não tratou uma depressão… sempre que a gente vasculha e tenta entender o que aconteceu existe um fator emocional”, afirma a nutricionista. “A gente, literalmente, precisa começar do zero para recuperar a autoestima e a vida desse paciente”, conclui Maria Gabriela.

A evasão dos consultórios de psicólogos e psiquiatras foi um dos principais pontos levantados sobre o assunto. Segundo o Dr. Felipe Rossi, a maior parte dos pacientes demonstram rejeição quando são orientados a procurar ajuda com profissionais da saúde mental.

“Muitos pacientes se sentem constrangidos de serem vistos no psiquiatra. Uma boa entrevista inicial mostrando o papel do psiquiatra e quebrando paradigmas ajuda”, diz Tonelli. “Muitos pacientes têm ideias errôneas sobre medicação e eu sempre digo que o antidepressivo não vai criar uma alegria artificial, ele vai devolver você a você mesmo. A mente é um órgão como o estômago e remédios podem trazer uma série de alívios”, afirma o psiquiatra.

“Cada vez mais, a gente percebe que os melhores resultados são de pacientes que têm acompanhamento contínuo, principalmente, da parte psicológica e psiquiátrica. Os pacientes que fazem o acompanhamento multidisciplinar têm um resultado espetacular e incomparável a longo prazo”, finaliza Rossi.

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