Notícias Cirurgia Bariátrica Cirurgia Metabólica Obesidade

A Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) – em virtude da divulgação na imprensa nacional sobre o estudo “Aspectos psicológicos associados ao reganho e excesso de peso tardios em pessoas submetidas a cirurgia bariátrica”  – pesquisa de doutorado realizada no Instituto de Psicologia (IP) da USP com casuística de em hospital privado da cidade de João Pessoa, vem de imediato prestar importantes esclarecimentos.

Apesar de ainda não publicada em revistas indexadas, que permitam a análise na íntegra do estudo, a mídia relata ser esta uma publicação em um centro único, privado, na Paraíba, com apenas 112 pacientes submetidos à cirurgia bariátrica, no período de oito anos. Atenção para o fato de que o estudo não possui qualquer relação com o serviço  de cirurgia bariátrica do Hospital de Clínicas e da Faculdade de Medicina da USP, ambos não admitem teses que não sejam casuísticas originárias do próprio HC.

Neste estudo, segundo a autora, foram selecionados apenas os pacientes que não aderiram ao acompanhamento com a equipe multidisciplinar (que é um fator reconhecidamente importante em relação ao resultado da cirurgia bariátrica) e que apresentavam diagnóstico de enfermidades psicológicas (que sem o referido tratamento psicológico são comprometedores do resultado de qualquer tratamento da obesidade).

Importante ressaltar que a obesidade – durante décadas – foi considerada como distúrbio psicossocial, e após anos de estudos passou a ser entendida como doença crônica. Muitos pacientes com indicação de cirurgia bariátrica apresentam transtornos psicológicos, necessitando, em virtude disso, de adequado acompanhamento multidisciplinar.

A intervenção cirúrgica é segura e eficaz a longo prazo e objetiva controlar a doença obesidade e suas comorbidades. Comparativamente a todas as demais modalidades de tratamento, a cirurgia bariátrica é a que possui menores índices de recidiva, mas ainda assim, espera-se que uma menor parcela dos pacientes apresentam recidiva tardia.

Para que se tenha ideia, em estudo realizado no Estados Unidos em dez hospitais do país, em 6 centros clínicos de diferentes de regiões, com 2.348 pacientes que haviam realizado a cirurgia bariátrica há mais de sete anos, a média de perda de peso foi de 28,4% com recuperação de 3,9% na técnica de cirurgia bariátrica chamada bypass gástrico e de 14,8% com recuperação de 1,4% para a técnica de banda gástrica ajustável laparoscópica.

Já o estudo indiano multicêntrico, publicado em 2019 na Obesity Surgery, um respeitado jornal científico, coletou dados sobre pesos pré-operatórios e pós-operatórios ao longo de 5 anos. Um total de 9.617 pacientes foram incluídos. Múltiplas definições foram aplicadas para encontrar a proporção de pacientes com aumento significativo de recidiva de peso. A proporção daqueles com recidiva de peso significativa foi comparada entre os subgrupos. A mediana da recidiva de peso aos 5 anos foi de 14,1% do peso perdido, 1,92 kg/m2 e 5 kg. Segundo o estudo, a seleção de definições para relatar recidiva de peso tem um impacto significativo nos resultados. Há necessidade de padronizar o relato de recidiva de peso na literatura bariátrica.

Em padrões normais no mundo, considera-se como esperado que após o período de 18 meses da cirurgia, quando o paciente alcança o seu menor peso, haja um ganho de cerca de 10% do peso perdido, como uma adaptação fisiológica de estabilização do peso perdido.

O conceito mais aceito de recidiva da obesidade (termo preferido em relação ao reganho de peso) é determinado pelo ganho superior a 50% do peso que foi perdido ao longo do tratamento. As publicações sérias, de melhor nível de evidência, avaliando populações de dezenas de milhares de pacientes operados, publicados em revistas de alto impacto científico, mostram ao longo de 8 anos índices de recidiva não superiores a 37%.

No passado, assim como divulgado na referida publicação, conceituava-se qualquer ganho de peso como recidiva da obesidade. 

Considerando como exemplo um paciente que é operado com 150 kg, chega a 90kg após a cirurgia e ganha ao longo dos anos 7kg, completando seus dez anos pós-cirurgia com 97kg. Este não pode ser considerado como um desfecho inadequado.

Este conceito além de errado é prejudicial, pela difusão de dados que escondem os grandes e reais benefícios da cirurgia bariátrica e desrespeitam os conceitos científicos mais tradicionais. Todas as vezes que resultados, em pequenas populações de pacientes em um local específico, divergem dos resultados encontrados em todas as demais publicações de melhor nível científico e com populações muito maiores, demonstra possível problema nos dados que foram adquiridos. 

Isso pode acontecer por coletar dados de poucos pacientes que não representem a população total daqueles que fazem a cirurgia bariátrica, por erros em relação aos conceitos de recidiva da obesidade, ou pior, que estes pacientes não tenham recebido tratamento adequado neste centro, causando desfecho inferior aos demais publicados.

Além de reforçar que os resultados de longo prazo da cirurgia bariátrica vão muito além do peso perdido, com inúmeros benefícios no controle do diabetes, hipertensão e aumento da expectativa de vida, reiteramos a necessidade de responsabilidade na divulgação de dados científicos sem sensacionalismo ou manipulação de dados conceituais sedimentados.

A SBCBM aguarda a publicação na íntegra do referido estudo para posicionamento definitivo e entendimento do ocorrido no referido centro de atendimento em Cirurgia Bariátrica, visando o melhor a todos os pacientes que buscam o tratamento da obesidade.

Diretoria da SBCBM

To top