A SBCBM foi responsável pela coordenação científica do mutirão. Os materiais foram doados pela multinacional Medtronic, hospitais e cirurgiões realizaram os procedimentos de forma gratuita
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Cirurgiões que integram a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) realizaram, entre os dias 3 e 5 de março – em alusão ao Dia Mundial da Obesidade -, mutirões para operar 50 pessoas com obesidade mórbida e que aguardavam nas filas do Sistema Único de Saúde (SUS) nos Estados do Paraná, São Paulo, Bahia e Pernambuco.
Em todo o Brasil mais de 100 profissionais, entre cirurgiões e equipes, participaram da ação. Os pacientes operados passaram pelas etapas pré-operatórias e receberam alta em 24 horas, pelo fato da cirurgia ter sido feito por videolaparoscopia.
O Brasil é hoje um dos países com a mais alta taxa de pessoas com obesidade no mundo. No entanto, com a pandemia o quadro se agravou.
Números do DataSus, do Ministério da Saúde, informam que o número de cirurgias bariátricas realizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) caíram 81,7% em 2021, se comparado com 2019. No ano passado foram feitas 2.296 cirurgias bariátricas pelo SUS no país. Já em 2019 – antes da pandemia – o número foi de 12.568.
Em São Paulo, passaram pela cirurgia para tratamento da obesidade 697 pessoas em 2021. No Paraná foram 494, em Pernambuco 155 e na Bahia apenas 18.
“O número de cirurgias realizadas pelo SUS no país em 2019 já não conseguia atender nem 5% da demanda nacional. Agora, piorou muito”, afirma o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), Fábio Viegas. A SBCBM será responsável pela coordenação científica do mutirão.
Para ele, é fundamental que haja uma retomada nacional e eficiente destes procedimentos. “A obesidade e doenças associada a ela aumentaram e, aliado a isso, houve uma redução no número de cirurgias bariátricas em 2020. Este cenário ocasionou em um tempo de espera ainda maior para os pacientes – com obesidade grave e que reduzem a cada dia a sua expectativa – a espera do SUS para o tratamento cirúrgico da obesidade”, diz Viegas.
Cirurgia por vídeo – Um dos grandes diferenciais do mutirão é que todas as cirurgias foram feitas por videolaparoscopia em pacientes do SUS. Entre os anos de 2017 a 2021, apenas 7,2% do total de procedimentos realizados pelo SUS no país foram feitas utilizando a cirurgia minimamente invasiva. Em contrapartida, 100% das cirurgias autorizadas pelos planos de saúde utilizam esta técnica.
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No tratamento da obesidade, as cirurgias videolaparoscópicas se diferenciam da convencional aberta (laparotomia) em função do acesso utilizado. Na cirurgia aberta, o médico precisa fazer um corte de 10 a 20 centímetros no abdômen do paciente. Na videolaparoscopia são feitas de quatro a sete mini incisões de 0,5 a 1,2 centímetros cada uma, por onde passam as cânulas e a câmera de vídeo. A cirurgia videolaparoscópica ocorre em todas as cirurgias abdominais que possam ter acesso por método minimamente invasivo, garante uma segurança maior e uma recuperação mais rápida ao paciente.
Os Mutirões no País – Os mutirões de cirurgias bariátricas são parte de uma ação conjunta entre a SBCBM – por meio dos médicos e equipes que fizeram as cirurgias gratuitamente – Hospitais e a multinacional Medtronic, empresa de tecnologia e soluções médicas, que doou todos os materiais necessários para a realização dos procedimentos.
A Medtronic é referência global em cirurgias minimamente invasivas e possui um dos portfólios mais completos em cirurgia bariátrica e metabólica, sendo responsável pela invenção de alguns dos materiais e equipamentos usados nestes procedimentos via videolaparoscopia. Entre essas principais tecnologias, estão os grampeadores cirúrgicos, pinças de energia e torres de vídeo. Só no Brasil a Medtronic realiza cerca de 40 mil cirurgias bariátricas por ano.
Para a Medtronic, participar do mutirão é uma forma de contribuir para o controle da obesidade no Brasil. Para isso, a multinacional emprestou aos hospitais 10 torres de vídeo, essenciais para esse tipo de cirurgia, e geradores. Além disso, doou grampeadores cirúrgicos, cargas de grampeadores, pinças de energia e trocateres.
“Estamos sempre presentes nesse tipo de ação em diferentes especialidades, pois acreditamos na ampliação e democratização do acesso do paciente a novas tecnologias. Paralelamente, também contribuímos com a capacitação dos profissionais de saúde, campanhas de conscientização, investimos em pesquisa na área e trazemos modelos de serviços diferenciados, pensando em otimizar a cadeia de saúde e beneficiar todos os seus protagonistas”, argumenta Felipe Barreiro, vice-presidente da Medtronic no Brasil.
Segundo o executivo, além da disponibilidade da tecnologia, para que o mutirão acontecesse houve uma mobilização interna que contou com a participação dos colaboradores da multinacional, distribuidores e parceiros. “Esse tipo de iniciativa requer uma orquestração desafiadora em razão de estarmos presentes em Estados distintos. Sem essa cadeia de apoio nada disso seria possível. Estamos orgulhosos e agradecidos, já que, mais uma iniciativa com a participação coletiva de diferentes protagonistas foi bem-sucedida e transformou a vida dos pacientes”, conclui.
Os mutirões aconteceram simultaneamente na Santa Casa de São Paulo; no Hospital do Rocio, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC) no Paraná; no Hospital São Paulo, em Teixeira de Freitas na Bahia; e em cinco hospitais de Recife, sendo eles o Hospital das Clínicas, Hospital Agamenon Magalhães, Hospital Esperança e no Real Hospital Português.
Em Recife os cirurgiões bariátricos, Álvaro Ferraz, Josemberg Campos, Flavio Kreimer, José Tarcio Dias e Servio Fidney Brandao de Menezes Correia coordenaram as ações. Em Campo Largo, Região Metropolitana de Curitiba, o mutirão foi coordenado por Paulo Nassif e Caetano Marchesini. Já em São Paulo o mutirão foi coordenado pelos cirurgiões Luiz Vicente Berti, Wilson de Freitas Junior e Elias Ilias. Na Bahia a coordenação foi do cirurgião bariátrico, Lauro Oscar de Lima Junior, que atua na cidade de Teixeira de Freitas.
Indicação – Entre os critérios previstos nas portarias 424 e 425 do Ministério da Saúde para realização da cirurgia bariátrica pelo SUS estão o encaminhamento de pacientes com Índice de Massa Corporal (IMC) de 50 Kg/m2 e pacientes com IMC ³40 Kg/m², com ou sem comorbidades, sem sucesso no tratamento clínico por no mínimo dois anos e que tenham seguido protocolos clínicos.
As portarias também permitem a indicação para cirurgia bariátrica de pacientes com IMC > 35 kg/m2 e comorbidades com alto risco cardiovascular, diabetes e/ou hipertensão arterial de difícil controle, apneia do sono, doenças articulares degenerativas ou outras que não tenham tido sucesso no tratamento clínico longitudinal realizado por no mínimo dois anos e que tenham seguido protocolos clínicos.
Dados – De acordo com a última Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em parceria com o Ministério da Saúde, um em cada quatro adultos estava obeso em 2019. São 29,5% das mulheres e 21,8% dos homens.
Outro estudo recente, o Diet & Health Under Covid-19, que entrevistou 22 mil pessoas de 30 países, em 2021, identificou que foram os brasileiros os que mais ganharam peso durante a pandemia de COVID-19. Aqui, cerca de 52% dos entrevistados declararam ter engordado. A média global é de apenas 31%. Ainda segundo a pesquisa, os brasileiros ganharam, em média, cerca de 6,5 quilos neste período.