Estudo francês avalia os impactos da COVID-19 em obesos e em pacientes submetidos à cirurgia bariátrica e metabólica
Um estudo conduzido na França avaliou 8.286 obesos hospitalizados entre 1º de janeiro e 15 de maio com diagnóstico de infecção por COVID-19. Neste grupo, 541 pessoas tinham sido submetidas à cirurgia bariátrica antes da pandemia. Os pesquisadores concluíram que em pacientes bariátricos, a necessidade de ventilação mecânica foi 33% menor e o índice de mortes 50% inferior, comprovando o efeito protetivo da cirurgia nesta população.
Os pesquisadores trazem ao estudo números do Sistema Nacional de Informação de Seguro Saúde Francês que contabiliza 4,2 milhões de pacientes obesos no país. Desse total, 389 mil pacientes já foram submetidos à cirurgia bariátrica. Todos, operados ou não, são acompanhados por até cinco anos pelas equipes médicas. A partir deste número, a pesquisa cruzou os casos destes pacientes com os internamentos por COVID-19.
Segundo a pesquisa, no grupo de pessoas obesas contaminadas hospitalizadas com COVID-19, o uso de ventilação mecânica invasiva foi necessária em 15% dos casos e óbitos representam 14,2%. No grupo de pessoas com histórico de cirurgia bariátrica contaminadas, a necessidade de ventilação mecânica foi de 7% e os casos que evoluíram para óbito ocorreu em apenas 3,5% dos pacientes.
De acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), Dr. Marcos Leão Vilas Bôas, os pacientes com obesidade e doenças associadas devem buscar tratamento, já que são considerados grupo de risco para o COVID-19.
“Estar hoje com obesidade representa um risco muito elevado e a cirurgia metabólica e bariátrica são ferramentas potentes para minimizar essas doenças. Quando nós tratamos pacientes obesos, estamos minimizando os riscos para muitas doenças como infarto, derrame e câncer e, atualmente, também para o coronavírus”, diz Marcos Leão.
Por fim, os estudo conclui que a cirurgia bariátrica está associada a um risco reduzido de morte e ventilação mecânica invasiva em indivíduos obesos diagnosticados com COVID-19 e reforça que o procedimento demonstra ser a única medida eficaz para perda de peso e remissão ou melhora das comorbidades relacionadas à obesidade e que são fatores de risco para a COVID-19, como hipertensão e diabetes tipo 2.
OBESIDADE NO BRASIL – Se a prevalência da obesidade atinge mais de 21% da população na França segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil não está muito atrás. Segundo dados da última Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde, a obesidade afeta 18,8% dos brasileiros e mais da metade (55,7%) tem excesso de peso. Essas pessoas podem ter a qualidade de vida afetada por doenças como hipertensão arterial, diabetes tipo 2, alterações do colesterol e triglicérides, cardiopatias e imunossupressão devido ao quadro de inflamação crônica, deixando-as mais suscetíveis a infecções como a causada pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2).
Dados do último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, divulgado em 1º de agosto, mostra que o diabetes e a obesidade estão entre as principais comorbidades relacionadas a mortes por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) causada por COVID-19.
CIRURGIAS BARIÁTRICAS ESTÃO MANTIDAS – o Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou a Recomendação Nº 1/2020 que dispõe sobre a continuidade dos serviços de cirurgia bariátrica e metabólica em hospitais da rede pública e privada. A entidade entende que a paralisação dos serviços compromete a saúde de pacientes portadores de doenças graves e ou/crônicas como a obesidade e o diabetes e que a sua postergação pode resultar no aumento da morbidade e da mortalidade. As cirurgias bariátrica e metabólicas devem ser feitas, preferencialmente, em instituições que tenham fluxo de atendimento independente do atendimento aos casos de COVID 19, com salas cirúrgicas isoladas e ambiente controlado.
No pré-operatório, o CFM recomenda que sejam adotadas estratégias de triagem de possível contato dos pacientes com portadores de COVID-19 e realização de testes de diagnóstico. Em casos de sintomas respiratórios, febre ou suspeita clínica de infecção pelo coronavírus, a cirurgia deve ser adiada.
No pós-operatório, o CFM recomenda que os critérios para a alta do paciente devem ser os mesmos do período anterior à pandemia. Além disso, em relação a assistência ao paciente após a cirurgia, o Conselho sugere que as equipes disponibilizem assistência nutricional, clínica e psicológica remota – via telemedicina – para auxiliar no distanciamento social sem comprometer o acompanhamento.