A programação do XXIV Congresso Brasileiro de Cirurgia Bariátrica e Metabólica destacou o papel do tratamento interdisciplinar para o tratamento da obesidade em crianças e adolescentes. Em sessão promovida nesta quinta-feira (24), palestrantes trouxeram diversas estratégias para enfrentar a crescente incidência de obesidade nesta faixa etária, focando na importância do envolvimento familiar, psicológico e de hábitos de vida saudáveis.
A endocrinologista Cintia Cercato, ex-presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade (ABESO) e membro da Câmara Técnica de Cirurgia Bariátrica do CFM, trouxe um ponto crucial para o debate: a indicação de cirurgias bariátricas para adolescentes. Cercato lembrou que, apesar de a cirurgia ser uma opção válida em casos extremos, é preciso cautela: “A regulamentação, com 16 anos como idade mínima, está de acordo com as grandes evidências que temos na literatura”, afirmou, reforçando que cada caso deve ser analisado com rigor para evitar intervenções precoces e desnecessárias.
O cirurgião bariátrico Pedro Caravatto fez reflexões sobre a complexidade de tratar a obesidade infantil e o envolvimento necessário da família no processo. Caravatto observou que o vínculo com a família é essencial, mas muitas vezes desafiante:
“Eu abordo a família no conjunto, depois uma consulta com o paciente, depois com a mãe ou pai, para só então prosseguir com a decisão de operar ou não aquele paciente”, comenta. Segundo o especialista, a falta de continuidade e envolvimento da família pode comprometer o sucesso do tratamento.
Nutrição
A nutricionista Andreia de Luca Sacramento trouxe à sessão sua experiência sobre como lidar com as aversões alimentares, comuns em crianças com obesidade. Ela destacou a importância de entender as causas da rejeição alimentar, frequentemente associada à seletividade e à neofobia, comportamentos típicos da infância.
“É importante conversar com os pais sobre a frequência e o repertório alimentar ao qual a criança é exposta”, disse Andreia. Ela sugeriu a adoção de atividades lúdicas, como jardinagem, visitas ao mercado e experimentação de novos alimentos, para tornar o momento da alimentação mais atrativo e diversificado.
A psicóloga Marcela Abreu Rodrigues abordou os desafios da avaliação psicológica em adolescentes com obesidade, destacando a importância de compreender como a doença afeta a maturidade dos pacientes. “O paciente é estigmatizado, sofre bullying, apresenta histórico de abusos, dores e dificuldades de aprendizagem”, explicou.
Para Marcela, é essencial que o tratamento inclua terapia cognitivo-comportamental, visando preparar o jovem para a cirurgia e o pós-operatório. Segundo ela, “o desafio é a adesão ao tratamento. Se não mudar o ambiente, as compras, as relações em casa e na escola… não vai mudar”.
Atividade física
Fechando a sessão, a profissional de Educação Física, Cristina Aquino, trouxe dados alarmantes sobre o impacto da inatividade física nas crianças e adolescentes. Segundo pesquisas, mais de 5 milhões de mortes por ano são causadas por baixos níveis de atividade física e destaca que no Brasil, 14% das crianças e 31% dos adolescentes apresentam algum grau de obesidade.
Ela apresentou as recomendações internacionais de exercícios físicos de acordo com cada faixa etária e reforçou a importância de que pais sejam exemplos para seus filhos. “Sem a mudança no estilo de vida dos pais, o tratamento não vai funcionar”, alertou, destacando que o incentivo deve começar desde cedo, com atividades lúdicas e adaptadas para as crianças. Cristina também ressaltou as consequências do excesso de peso no desenvolvimento físico e mental das crianças, como alterações posturais e menor capacidade cardiorrespiratória. No entanto, destacou que qualquer movimento é benéfico: “Qualquer momento é melhor que nenhum”, enfatizou.
XXIV Congresso Brasileiro de Cirurgia Bariátrica e Metabólica
O tema central do Congresso deste ano é “Cirurgia Bariátrica: Segurança e Eficiência”, que reflete a preocupação constante da SBCBM em garantir o melhor cuidado no preparo ao paciente cirúrgico, maior padronização e segurança nos procedimentos e, sobretudo, aprimorar os resultados para aqueles que buscam soluções para a obesidade e condições metabólicas associadas. Entre os dias 23 a 25 de outubro, o Congresso promove mais de 200 aulas e cursos com 347 palestrantes e debatedores convidados