Especialistas em avaliação de tecnologias de saúde e especialidades médicas que atuam no tratamento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) reuniram-se, no último dia 12 de maio (terça-feira) em webinar. O objetivo era discutir como o sistema de saúde pode incorporar novos modelos de tratamento para o paciente crônico e como pandemia ocasionada pelo novo coronavírus (COVID-19) impacta a vida dessas pessoas.
O “Webinar” foi promovido na última terça-feira (12), pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), e contou com a presença online de 458 pessoas e palestrantes de renome nacional e internacional.
Entre os destaques da programação estava o Dr. Jeffrey Mechanick, Diretor do Centro de Saúde Clínica Cardiovascular no Hospital Mount Sinai em Nova York (EUA) e ex-presidente do Colégio Americano de Endocrinologia, que abordou as DCNTs e a Síndrome Cardiometabólica associada ao COVID-19, mostrando inclusive como Nova York foi impactada
“Os números em Nova York mostram muito claramente como a presença de doenças como Diabetes, Hipertensão e Obesidade influenciaram o nível de gravidade e a mortalidade dos pacientes que se internaram com Covid19”, explica.
Mortalidade nos EUA – “Aqui constatamos que, entre aqueles que tiveram uma evolução desfavorável, cerca de 70% tinham hipertensão, 80% obesidade e 50% diabetes. E isso foi constatado não apenas nos Estados Unidos, mas também nas UTIs da China, Itália, França e Espanha”, disse o Dr. Jeffrey Mechanick.
“Temos certeza de que se forem coletados dados como peso e altura em todos os serviços, teremos um cenário muito mais preciso no que diz respeito a influência da obesidade sobre a resposta do organismo a doença”, reforçou.
Para ele, ter a possibilidade de intervir antes em um paciente resistente a insulina e que possui estilo de vida inadequado, com a cirurgia metabólica, por exemplo, reduziria muito o risco deste paciente ser internado ou de morrer devido à COVID-19
Cenário no Brasil – Atualmente, no Brasil, as doenças crônicas não transmissíveis como a obesidade, o diabetes, doenças cardiovasculares e doenças respiratórias são responsáveis por mais da metade das mortes na população entre 30 a 69 anos, segundo o Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde.
Lucas Correa, da Consultoria Propspectiva trouxe estes dados sobre o aumento das doenças crônicas no Brasil.
“Os dados do Vigitel de 2019 são preocupantes. O sobrepeso aumentou em 30%, a obesidade aumentou em 72%, a hipertensão arterial aumentou 8,4% e o Diabetes teve um aumento de 35%”, elencou Lucas. Ele ressaltou que todo este cenário se reflete em mortalidade e custos.
Já o ex-presidente da Agência Nacional de Saúde, Leandro Fonseca – que também é servidor de carreira do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (atualmente integrante do Ministério da Economia) – falou sobre novos hábitos e reflexos da crise que devem trazer um novo modelo de atendimento ao paciente crônico.
“A queda dos procedimentos eletivos e o uso da telemedinca, evitam a ida das pessoas para o ambiente hospitalar e abrem possibilidades na atenção à saúde de pessoas com doenças crônicas. Diante desta nova realidade, pode haver um acompanhamento mais próximos dos doentes crônicos e também uma mudança no atendimento”, ponderou. No que se refere as novas tecnologias em saúde, ele disse que, até o final da sua gestão à frente da entidade, encerrada em dezembro de 2019, a ANS vinha em um processo contínuo de aprimoramento de incorporação no rol. “Em relação a tecnologias a Agência terá que trabalhar cada vez mais nas linhas de cuidado”, concluiu
A médica pediatra e também ex-diretora da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) Dra. Martha Oliveira destacou a importância da gestão e da incorporação de novas tecnologias no sistema de saúde brasileiro e os desafios do setor.
A especialista trouxe o atual panorama do funcionamento da atualização do rol de procedimentos mínimos obrigatórios na ANS, as consequências dos impactos financeiros causados pela pandemia do novo Coronavírus e provocou questionamentos sobre o futuro.
Hoje, o rol passa por uma atualização de procedimentos obrigatórios mínimos. A análise de elegibilidade considerou 459 formulários enviados, sendo que destes apenas 215 propostas atenderam todos os critérios destacados na norma, sendo 116 referentes a medicamentos, 74 a procedimentos e 25 a termos descritivos. Destas propostas, Martha destaca que 118 que atenderam a todos os critérios foram enviados por entidades representativas de profissionais médicos – como a SBCBM – que são detentores de conhecimento científico necessário para destacar a importância dessa nova tecnologia no sistema de saúde
“Até o final do ano estará terminando a revisão atual. Nós saímos de um momento em que tivemos uma recessão no setor, esperávamos que em 2019 haveria uma ascensão que não aconteceu. Mais do que nunca, a revisão do rol passará por uma analise de impacto-custo muito mais importante do que as revisões anteriores”, disse Martha.
INOVAÇÃO
No que se refere a novas tecnologias, o médico endocrinologista, Luiz Turatti, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia mencionou que para pacientes obesos, hipertensos e diabéticos o tratamento clínico e cirúrgico da obesidade se complementam. “A análise crítica está em definir o momento da indicação cirúrgica por parte do médico endocrinologista, mesmo sabendo que nenhuma medicação tem os efeitos da cirurgia bariátrica e metabólica para redução de peso do paciente que não adere ou não responde ao tratamento clínico. Mas é importante ressaltar que após a cirurgia o acompanhamento do endocrinologista é fundamental”, ponderou.
O coordenador Centro de Obesidade e Diabetes- Hospital Alemão Oswaldo Cruz e ex-presidente da SBCBM, Ricardo Cohen, apresentou dados de estudos que comprovam a maior mortalidade entre os pacientes obesos e portadores de doenças crônicas, neste período de pandemia, mas também fora dela. Além disso, ele comprovou a remissão de doenças associadas à obesidade com a efetiva perda ponderal de peso, com 41% de redução de óbitos e redução de outras doenças cardiovasculares.
“Quanto mais precoce ser tratado e operado, menor é o custo para o sistema de saúde. Os pacientes crônicos e obesos têm opções eficazes de tratamento, seja clínico, com remédios orais e injetáveis, ou através da cirurgia metabólica (para tratar o diabetes que não é controlado com o tratamento clínico) e bariátrica. Lamentavelmente, poucos pacientes têm acesso aos melhores tratamentos disponíveis e não é porque há somente alguma grave restrição para acesso”, completou.
CORAÇÃO – O cardiologista Oscar Dutra, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia, alertou para o fato de que, em um curto espaço de tempo, no Brasil, mais de 25% da população terá Diabetes Mellitus tipo 2. “O índice de casos de diabetes tipo 2 está aumentando e, como consequência disso, o número de morbidade e mortalidade por doenças cardiovasculares está subindo. Isso porque a doença é um fator de risco desencadeador de eventos cardíacos como acidente vascular cerebral (AVC), infarto do miocárdio e amputações decorrentes das alterações de glicose no sangue”, explicou Dutra.
De acordo com os dados apresentados, o diabetes tipo 2 dobra o risco dos eventos cardiovasculares e reduz, em média, 6 anos de vida dos pacientes com 50 anos.
O Atlas do Diabetes, informa que o Brasil é o quinto país com maior incidência de casos em adultos, ficando atrás da China, Estados Unidos, Alemanha e Índia. Esses países somados com os casos de diabetes da Rússia, México, Egito, Indonésia e Paquistão concentram 60% dos casos mundiais da doença e utilizam 69% dos gastos globais em saúde com diabetes.