O Barilive desta terça-feira (4) reuniu três grandes nomes da cirurgia bariátrica para discutir o tema “Cirurgia aberta ou fechada? qual a diferença entre as técnicas?”.
Participaram do programa promovido pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica os cirurgiões bariátricos Alexandre Elias, Marco Aurélio Santo, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e Thomas Szego, ex-presidente da SBCBM e atual presidente do conselho da sociedade.
A operação realizada no paciente é basicamente a mesma, o que muda é a via de acesso, segundo o cirurgião Santo. “Os termos cirurgia aberta e cirurgia fechada já dizem por sí só. A cirurgia aberta é a que fazemos abrindo a cavidade abdominal, a laparotomia, e quando falamos em cirurgia fechada estamos nos referindo à cirurgia laparoscópica, que colocamos em pequenos orifícios instrumentos que vão fazer, dentro da barriga, o mesmo procedimento. É importante ressaltar que o que fazemos dentro da barriga é basicamente a mesma coisa”, afirmou.
O cirurgião Szego afirmou que não é recomendado a mudança nas técnicas cirúrgicas já são comprovadamente eficazes, independente da via de acesso. “Não justifica eu adaptar uma técnica já consagrada para mudanças ainda não comprovadas só porque a via de acesso é diferente. Tenhos que moldar a nossa habilidade ao material para reproduzir o que já era feito”, afirmou.
Durante a operação
O cirurgião Thomas afirmou que a operação fechada tem mais vantagens se comparada a aberta. “Como é que eu vou sentir e conseguir controlar problemas, complicações ou acidentes? A medida que se treina por videolaparoscopia nós conseguimos um acesso mais seguro a cavidade, por via de regra temos acesso mais fácil, com uma visão muito melhor”.
Santo citou benefícios da cirurgia fechada durante a operação. “O que houve de melhora da hemostasia [sangramento] com a cirurgia laparoscópica é um incremento magistral e também tem o avanço dos grampeadores que melhoraram muito na laparoscopia se comparado com a cirurgia aberta”, explicou.
O cirurgião também pontuou uma barreira da operação fechada. “A grande limitação ainda são aquelas cirurgias abdominais que dificultam o acesso em algumas condições e, às vezes, iniciado o procedimento com laparoscopia é necessário fazer uma transformação para uma cirurgia aberta, mas não há contra-indicação de início para a operação laparoscópica”.
SUS
Mesmo sendo liberada pelo Ministério da Saúde, a maioria das cirurgias bariátricas realizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) são abertas. “Não há dúvida que existe uma diferença de custo, além de necessidade de treinamento dos profissionais. Não podemos pensar que a cirurgia aberta é menos eficiente, ela vai contribuir da mesma forma para a redução de peso e de doenças. Na cirurgia aberta o ponto mais crítico é a necessidade de maior tempo de recuperação, mas os riscos e os efeitos são os mesmos”, alertou Marco. “Não podemos condenar a cirurgia aberta só porque surgiu uma nova tecnologia”, complementou.
Elias lembrou da necessidade de prática dos novos profissionais. “Um lado que temos que considerar na cirurgia aberta e fechada é o treinamento do jovem cirurgião. Aquele que está iniciando na sua atividade cirúrgica, o residente que precisa fazer a cirurgia aberta. Ainda há espaço na escola universitária para aquele cirurgião saiba fazer a cirurgia aberta para depois pegar uma videolaparoscopia”, disse.
Evoluções da operação
Segundo Marco, a cirurgia aberta também evoluiu. “Hoje também é possível fazer em um tempo curto. Aquelas complicações que tinham antigamente, de uma cirurgia muito longa, com muito tempo de anestesia já são coisas do passado. Também conseguimos fazer um corte no tamanho adequado da operação. Os principais pontos da videolaparoscopia no pós operatório é que o tempo de internação e a dor são menores”. disse.
De acordo com Szego a principal vantagem da cirurgia fechada é a segurança. “O grande obeso tem pouca dor no pós operatório, então essa questão da dor, no começo, nos deixou na dúvida. Hoje operamos pacientes menores e sentimos essa diferença, mas a grande diferença é a segurança do ato cirúrgico. Para quem está treinado em laparoscopia é muito mais claro o campo cirúrgico e o domínio do cirurgião é muito maior”, declarou.
Com os melhores preparos, as complicações cirúrgicas reduziram. “As complicações graves da cirurgia aberta se reduziram, inclusive a parte respiratória que era um ponto crítico. Não tem como dizer se as complicações são maiores ou não”, disse Marco.
Dreno
A utilização do dreno no abdome depende mais da postura do médico do que do tipo de cirurgia realizada, de acordo com Marco. “Eu sempre vou usar o dreno, na cirurgia aberta ou fechada, porque ele ajuda a evidenciar algum tipo de complicação: caso haja um sangramento ou possa ocorrer alguma hérnia. Ele não evita os problemas, mas pode nos beneficiar com um diagnóstico mais precoce”, disse.
Thomas discorda e acredita que há uma diferença entre na necessidade de drenagem. “Na cirurgia aberta nosso grupo cirúrgico colocava o dreno para que ele nos alertasse de um problema. O paciente com algum tipo de complicação na cirurgia aberta voltava à sala para reabrir e isso é uma cirurgia muito maior e com muito mais risco do que a cirurgia laparoscópica de dúvida. Hoje qualquer suspeita de problema fazemos uma nova laparoscopia”, disse.
Hérnias
De acordo com o cirurgião Szego há ocorrência de hérnias nas duas cirurgias. “A hérnia incisional é muito mais frequente na cirurgia aberta e muito rara na laparoscopia. A hérnia interna, por outro lado, é mais frequente na cirurgia laparoscópica do que aberta”, explicou.
O Barilive é uma proposta da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) com o objetivo de levar informações para a população sobre as cirurgias. O programa acontece todas às terças-feiras, às 20 horas, com transmissão ao vivo pelo Facebook.