A Cirurgia Bariátrica e Metabólica está consolidada como um tratamento eficaz contra a obesidade grave. O avanço de técnicas e tecnologias levou a especialidade a se tornar uma alternativa segura e eficiente não só contra a obesidade, mas também contra doenças associadas como diabetes, hipertensão e outras agravadas pelo excesso de peso. O Brasil é o segundo país no mundo que mais realiza operações deste tipo, com 100 mil registros por ano, e fica atrás apenas dos EUA. Apesar do crescimento nos últimos dez anos ainda não atendemos nem 1% dos candidatos a cirurgia.
Nossas taxas de resolução da doença são superiores a 90% com uma taxa de mortalidade de pacientes que optam pelo tratamento não ultrapassa a 0,15%.
A história da cirurgia bariátrica no Brasil começa na década de 1970 com os trabalhos iniciais do cirurgião da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) Salomão Chaib utilizando técnicas de derivações jejuno-ileais do tipo Payne (1969). Apesar de no início os resultados terem sido desanimadores, com problemas de segurança para pacientes e resultados limitados, médicos e cirurgiões capitaneados por Arthur Garrido Jr mantiveram pesquisas e acompanharam as principais tendências internacionais da especialidade, trilhando agora um novo caminho aberto na década de 1980 por Edward E. Mason, M.D, cirurgião americano considerado um dos pais da cirurgia bariátrica e um dos fundadores da Sociedade Americana de Cirurgia Bariátrica e Metabólica – ele foi o primeiro a introduzir o conceito de restrição gástrica, que levou ao desenvolvimento de técnicas como o bypass gástrico, gastroplastia horizontal e gastroplastia vertical com anel de polipropileno.
Paralelamente nas dependências da Beneficência Portuguesa de São Paulo, Garrido, Berti , Marcelo Roque, Pareja e depois Alexandre Elias ajudaram na formação de centenas novos cirurgiões bariátricos , imediatamente a eles se somaram João Batista Marchesini em Curitiba, Fernando Barroso no Rio e Edmundo Machado Ferraz em Recife e rapidamente estes 4 centros se multiplicaram em centenas.
Durante a década de 1990 outras técnicas como a derivação bílio-pancreática de Scopinarop e, principalmente, o aprimoramento das derivações gástricas em Y de Roux passaram a oferecer maior segurança e resultados mais consistentes em médio e longo prazo. A gastroplastia vertical com anel de Mason foi progressivamente substituída como abordagem de restrição puramente mecânica pelo emprego das bandas gástricas ajustáveis, logo adaptadas à via vídeolaparoscópica.
As derivações bilio-pancreáticas ganharam a variante “duodenal switch” de Hess e Marceau. Na entrada do novo milênio, as técnicas disponíveis passam a ter execução possível por vídeolaparoscopia, hoje consenso de indicação primaria aumentando ainda mais a segurança do procedimento e principalmente diminuindo a morbidade e a mortalidade destas operações.
Atualmente novas técnicas e abordagens surgem para o tratamento cirúrgico da obesidade grave e de doenças metabólicas, mesmo quando não há acúmulo acentuado de tecido gorduroso no organismo. O entendimento ampliado dos reflexos das intervenções no tubo digestivo nos mecanismos neuro-humorais tem estimulado novas idéias, ainda em comprovação científica.
A visão multidisciplinar também ganhou maior relevância: o entendimento que o tratamento cirúrgico é muito mais do que operar permitiu a maior participação de endocrinologistas, nutrólogos, psiquiatras, cardiologistas, nutricionistas, psicólogos, fisioterapeutas educadores físicos e outros profissionais da saúde.
Essa atuação conjunta evita complicações cirúrgicas imediatas e tardias, obtém resultados satisfatórios quanto a perda e a manutenção do peso perdido e abre caminho para o treinamento mais qualificado de novas equipes. Um bom preparo pré-operatório e um acompanhamento eficaz de longo prazo são realidades no tratamento bariátrico e metabólico e estão cada vez mais valorizadas.