Notícias

O estudo destaca que a obesidade é um fator de risco significativo para uma série de tipos de câncer, incluindo os de mama, útero, cólon, reto, fígado, vesícula biliar, pâncreas, esôfago e rim 

Um novo estudo publicado por pesquisadores brasileiros traz à tona a importante relação entre a obesidade e o desenvolvimento de diversos tipos de câncer, além de destacar o papel da cirurgia bariátrica na redução do risco dessa doença. A pesquisa, liderada por Paulo Kassab, do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, foi submetida à revista Arquivos Brasileiros de Cirurgia Digestiva (ABCD) e apresenta dados relevantes sobre o impacto da obesidade na saúde pública. O material contou com a colaboração de cirurgiões pesquisadores associados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM).

De acordo com a Sociedade Americana de Câncer, o excesso de gordura corporal contribui substancialmente para o risco de câncer, sendo responsável por cerca de 10,9% dos casos em mulheres e 4,8% em homens nos Estados Unidos. A pesquisa aponta ainda que, embora a incidência de alguns tipos de câncer esteja diminuindo devido a medidas de prevenção, como programas de rastreamento e a cessação do tabagismo, a incidência de neoplasias na população jovem tem mostrado um aumento significativo associado à obesidade.

O presidente da SBCBM, Antônio Carlos Valezi, um dos autores do estudo, destaca que a pesquisa reforça a importância de que a sociedade compreenda a obesidade como uma doença que traz consequências graves e por isso deve ter acesso amplo a opções de tratamento seguras e eficazes, entre elas a cirurgia bariátrica e metabólica.

“As pessoas precisam se conscientizar de que obesidade é uma doença que traz consequências não só na aparência como também causa alterações metabólicas, cardiovasculares, de colesterol, glicemia e também outra doença tão séria quanto que é o câncer”, diz Valezi.

Os pesquisadores enfatizam que a cirurgia bariátrica demonstrou reduzir significativamente o risco de desenvolver cânceres associados à obesidade. 

“A cirurgia bariátrica não apenas auxilia na perda de peso, mas também reduz significativamente o risco de desenvolver vários tipos de câncer associados à obesidade, atenuando as vias metabólicas e inflamatórias subjacentes que promovem a carcinogênese”, diz Paulo Kassab, autor principal do estudo.

A pesquisa cita diversos estudos que comprovam a eficácia da cirurgia bariátrica na redução da incidência de câncer. Um estudo multicêntrico, por exemplo, relatou que a incidência cumulativa de novos cânceres associados à obesidade foi significativamente menor no grupo de cirurgia bariátrica em comparação com o grupo controle não cirúrgico.

O estudo também aborda as diferentes técnicas de cirurgia bariátrica, como o bypass gástrico em Y de Roux, a gastrectomia vertical e o bypass de anastomose única, e seus potenciais impactos na incidência de câncer. Embora a gastrectomia vertical esteja associada a um risco aumentado de refluxo gastroesofágico, o que pode levar ao desenvolvimento de câncer de esôfago, o bypass gástrico em Y de Roux apresenta a preocupação com o desenvolvimento de câncer no estômago excluído. Já o mini bypass gástrico, por sua vez, está relacionado ao refluxo alcalino, que pode causar alterações na mucosa gástrica e esofágica, aumentando o risco de câncer.

Apesar das diferentes técnicas e seus riscos específicos, a pesquisa conclui que a incidência de câncer em pacientes submetidos à cirurgia bariátrica é baixa. Revisões sistemáticas e metanálises apontam um número reduzido de casos em relação ao total de cirurgias realizadas em todo o mundo, demonstrando que os benefícios da cirurgia, em termos de redução da incidência de câncer, superam os riscos, independentemente da técnica cirúrgica utilizada.

No entanto, os autores alertam para a importância de uma avaliação cuidadosa e individualizada dos pacientes, considerando os riscos e benefícios de cada técnica cirúrgica. “As indicações para a cirurgia devem ser discutidas cuidadosamente com equipes multidisciplinares, evitando exageros e sensacionalismo, principalmente em relação aos procedimentos que aumentam a incidência de refluxo gastroesofágico”, cita o estudo.

A pesquisa brasileira contribui para o avanço do conhecimento sobre a relação entre obesidade e câncer, e reforça a importância da cirurgia bariátrica como uma ferramenta eficaz na prevenção dessa doença. 

Colaboraram para a publicação do estudo os pesquisadores Álvaro Antônio Bandeira Ferraz, da Universidade Federal de Pernambuco; Anna Clara Hebling Mitidieri e Luiz Vicente Berti, da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo; Marco Aurélio Santo, da Universidade de São Paulo; Tiago Szego, Caio de Carvalho Zanon, Osvaldo Antônio Prado Castro, Wilson Rodrigues de Freitas Junior, Elias Jirjoss Ilias e Carlos Alberto Malheiros, da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo; Antônio Carlos Valezi, da Universidade Estadual de Londrina; e Antônio Carlos Ligocki Campos, da Universidade Federal do Paraná.

To top