O mundo tem cerca de 387 milhões de diabéticos (13 milhões no Brasil) e as estimativas não são boas. De acordo com o Atlas do Diabetes, esse número tende a aumentar mais de 150% até 2035. Os especialistas consideram que o Diabetes tipo 2 será a próxima epidemia global, pelo número de novos casos e a dificuldade no controle da doença em uma parcela dos pacientes.
Uma pesquisa do Ministério da Saúde indicou que entre os anos de 2006 e 2016 foi registrado um aumento de 61,8% nos casos de diabetes no país. Em paralelo, o número de casos de obesidade cresceu 60%.
Apesar do acompanhamento periódico dos médicos e o uso de novas medicações, o Diabetes Tipo 2 é uma doença extremante complexa e, talvez por isso, de difícil controle. “Todos os estudos mostram que temos aí 50% menos de controle dos pacientes com diabetes no mundo e no Brasil. Eu friso a importância do acompanhamento multidisciplinar também pela dificuldade da aderência do paciente ao tratamento”, afirmou a endocrinologista Tarissa Petry do Centro de Diabetes e Obesidade do Hospital Oswaldo Cruz, durante o workshop “Novas Fronteiras no Tratamento do Diabetes Tipo 2”, promovido pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM). Hoje, no Brasil, o acompanhamento geralmente é feito apenas pelo Clínico Geral.

A evolução do paciente com diabetes mal controlado é a mesma. Evolui para um infarto, doença arterial periférica, retinopatia, nefropatia e assim por diante. A endocrinologista Érika Parente, presidente da Comissão de Campanhas Públicas da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), frisou que os novos medicamentos – orais e injetáveis – têm apresentado resultados importantes no controle glicêmico, efeitos cardiológicos e renais. “Infelizmente esses medicamentos são mais recentes, surgiram a partir de 2005, e o grande problema é que não fazem parte dos medicamentos ofertados no Sistema Único de Saúde (SUS)”.
Do número de diabéticos no Brasil, provavelmente 1,2 milhão pacientes não tem controle da doença, mesmo tomando uma boa medicação. “Nós precisamos oferecer outras opções aos pacientes, como as cirurgias (bariátrica e metabólica), principalmente porque sabemos que os resultados da cirurgia com os remédios são muito melhores que apenas o medicamento”, ressaltou Ricardo Cohen, cirurgião bariátrico, ex-presidente da SBCBM e coordenador do Centro de Tratamento da Obesidade do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. “Sabemos que esses doentes têm uma chance cada vez maior de problemas de olho, rim, derrames e infartos e sabemos que a cirurgia com os remédios vai diminuir essa incidência”.
Obesidade
Já se sabe que a obesidade é uma das causas do aparecimento do diabetes tipo 2. Dados da Global Burden of Disease, de 2013, apontam que mais de 50% dos obesos do mundo se concentram em 10 países. Neste ranking, o Brasil ocupa a quinta posição, ficando atrás dos Estados Unidos, China, Índia e Rússia e seguido por México, Egito, Alemanha e Paquistão.
Nos concentrando nos dados brasileiros, uma pesquisa da Vigilância de Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), diz que mais da metade da população brasileira está acima do peso recomendado pelos órgãos de saúde. Desses, 18,9% são considerados obesos.
Um dos maiores estudiosos do diabetes, Dr Ralph Defronzo, aponta a diminuição de peso como o principal foco dos tratamentos do diabetes tipo 2. Por isso, as cirurgias bariátrica e metabólica, com a associação dos medicamentos e acompanhamento médico, em alguns casos, são a melhor solução.
“Quando a pessoa é obesa, tenta fazer exercícios, vai todos os dias na academia, e não emagrece. No terceiro mês ela desiste. Quando o obeso emagrece por alguma razão – seja medicamento ou cirurgia – mas ele emagrece, a aderência ao exercício físico aumenta quatro vezes”, explicou Cohen. Para o cirurgião, acontece o mesmo com a cirurgia. “Melhorou o diabetes, vou continuar tomando o medicamento. Não tenho mais problema no olho, tinha problema no rim e não tenho mais. Isso é humano, ele vai ser muito mais estimulado a continuar o tratamento”.