A necessidade de um educador físico na equipe multidisciplinar

Nas duas últimas décadas, a musculatura esquelética foi confirmada como importante órgão secretor, revelando capacidade de conversar a distância com diversos órgãos e sistemas vitais. As citocinas e outros peptídeos produzidos ou secretados pelas fibras musculares esqueléticas, foram denominadas miocinas, e são liberadas em sua grande maioria, através da atividade física.

Centenas de substâncias já identificadas, foram associadas com muitos dos benefícios propiciados pelos exercícios físicos. Além da Irisina, que ganhou fama por ser capaz de converter o tecido adiposo branco em um fenótipo similar ao da gordura marrom, transformando-o em um tecido termogenicamente mais ativo, podemos citar BDNF e LIF, ligadas ao desenvolvimento e manutenção de neurônios, tendo papel fundamental na memória e aprendizagem. Foi também observada a secreção de algumas interleucinas, tais como IL4, IL6, IL7, IL8 e IL15 tendo papel anti-inflamatório, regulagem do sistema imune, liberação de células satélites, angiogênese, formação de tecido ósseo, metabolismo da cartilagem, hipertrofia muscular, dentre muitos outros.

Importante frisar que algumas substâncias são secretadas somente pelas fibras musculares do tipo II, evidenciando a necessidade de se incorporar o treinamento de força aos programas de condicionamento físico.

Em contrapartida, mesmo pequenos períodos em comportamento sedentário, apresentam mudanças importantes na função endotelial. Um estudo sobre as características reológicas do sangue, demonstrou que apenas 2 horas de permanência na posição sentada é suficiente para aumentar a viscosidade sanguínea, aumentando o risco de trombose.

O metabolismo dos carboidratos e dos lipídeos, também é afetado, favorecendo a resistência a insulina e o acréscimo de gordura visceral. Além disso, a perda de massa muscular é iminente, acarretando queda na taxa metabólica basal, problemas posturais e disfunções na liberação das miocinas, que como mencionamos, estão associadas a inúmeros mecanismos essenciais à vida.

Posto isto, consideramos que a discussão sobre o treinamento físico como fator de emagrecimento tem andado na contramão. Muitos estudos íntegros demonstram diminuições pouco significantes no percentual de gordura, quando submetemos indivíduos somente a programas de exercícios físicos como intervenção. Por outro lado, a fisiopatologia da inatividade física demonstra evidências incontestáveis de acúmulo de gordura visceral e diversas disfunções metabólicas, aumentando o risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares e alguns tipos de câncer.

A compreensão deste processo é crucial, para que se desenvolva um planejamento estratégico, com metas de médio e longo prazo, com o objetivo de devolver o indivíduo à normalidade fisiológica, comprometida pelo tempo de exposição a obesidade e doenças associadas.

Portanto, a inclusão do profissional de Educação Física nas equipes de Cirurgia Bariátrica e Metabólica é um grande avanço. A expertise deste profissional vai além da simples prescrição de exercícios para este ou aquele “grupo muscular”, levando em consideração toda a fisiologia e biomecânica envolvidos, e aplicando os princípios que regem o treinamento físico, tais como sobrecarga progressiva, individualidade biológica, especificidade, entre outros. O treinador físico também deve conhecer o impacto dos diferentes tipos de cirurgia e recomendações médicas posteriores, para tomar as melhores decisões na hora de periodizar seu programa de treinamento. Outro ponto positivo é a

frequência com que este profissional se relaciona com o paciente, e em ambiente mais descontraído, onde muitas vezes compartilha informações de grande valia para toda a equipe multidisciplinar.

Temos consciência do árduo caminho de convencimento da importância da mudança para um estilo de vida mais ativo, primeiramente na própria equipe, pois o exemplo fala mais que mil palavras! Ao experimentarmos o bem estar proporcionado pelo movimento, nos tornamos entusiastas, aumentando nosso poder de persuasão. Fica aqui meu convite: Mova-se!

Cristina Aquino é educadora física e integra a Comissão de Saúde Física e Reabilitação da COESAS

To top