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A obesidade, reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma doença crônica desde 1948, continua sendo um dos maiores desafios de saúde pública em escala global. Entretanto, os critérios tradicionais de diagnóstico, baseados exclusivamente no Índice de Massa Corporal (IMC), têm mostrado limitações consideráveis para avaliar a adiposidade e seus impactos na saúde individual. É com entusiasmo que a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) acolhe e elogia as propostas avançadas pela Comissão publicada no Lancet Diabetes & Endocrinology, que trazem uma redefinição necessária e cientificamente embasada para a obesidade clínica.

A redefinição proposta é um divisor de águas na compreensão e no manejo da obesidade. Diferenciando entre obesidade pré-clínica e obesidade clínica, os novos critérios reconhecem que o excesso de adiposidade pode se manifestar de formas distintas, ora como um fator de risco, ora como uma condição de doença estabelecida. 

Essa nova categorização é particularmente relevante no contexto das intervenções cirúrgicas bariátricas e metabólicas, pois ao identificar precocemente pacientes em risco e direcionar recursos de forma eficaz para aqueles que já apresentam complicações representa um avanço significativo em termos de equidade e eficiência no cuidado.

Os novos critérios de avaliação têm vantagens como, a inclusão de métodos como circunferência abdominal, razão cintura-quadril e medidas diretas de adiposidade, como o DEXA, permite uma avaliação mais fidedigna do impacto da obesidade na saúde. Essa abordagem evita tanto o subdiagnóstico (em pessoas com IMC normal e alta adiposidade) quanto o sobrediagnóstico (em atletas com alta massa muscular); reconhece a obesidade clínica como uma doença baseada em alterações funcionais objetivas, e não apenas no peso, promove um cuidado mais centrado no indivíduo, alinhado com os princípios da medicina personalizada; permite na Obesidade Pré-Clínica a implementação de estratégias de monitoramento, aconselhamento e intervenções preventivas para evitar progressão. 

Já na Obesidade Clínica, permite abordagens baseadas em evidências, com o objetivo de reverter disfunções e melhorar a qualidade de vida. Também a nova definição combate a ideia de que a obesidade é apenas uma falha de comportamento ou estilo de vida, ao reconhecer a obesidade como uma doença multifatorial e sistêmica, promove-se um cuidado mais humanizado, com redução do peso do estigma associado à condição. Por fim, a  redefinição reforça a necessidade de políticas públicas baseadas em evidências, permitindo uma melhor alocação de recursos em saúde, priorizando tanto a prevenção quanto o tratamento eficaz.

Esses avanços representam uma oportunidade para transformarmos a forma como abordamos a obesidade em nossos sistemas de saúde. Na SBCBM, acreditamos que a integração desses novos critérios fortalecerá ainda mais as abordagens multidisciplinares que sustentam a cirurgia bariátrica e metabólica. Estamos comprometidos em liderar esforços para disseminar essas diretrizes no Brasil, colaborando com médicos, gestores de saúde e pacientes para promover mudanças significativas em nosso sistema de saúde.

Ao redefinir a obesidade como uma doença sistêmica e multifatorial, com critérios clínicos claros, a comissão pavimenta o caminho para uma abordagem mais justa e eficaz. A SBCBM apoia esses avanços e reafirma seu compromisso com a excelência no cuidado de pessoas que vivem com obesidade. Juntos, podemos transformar o futuro da saúde metabólica, promovendo não apenas tratamentos mais eficazes, mas também uma sociedade mais inclusiva e informada.

Juliano Blanco Canavarros
Presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM)

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