A cirurgia bariátrica representa atualmente a melhor estratégia para tratamento da obesidade mórbida. Entretanto, a rápida perda ponderal que ocorre após a cirurgia vem acompanhada de uma considerável perda de massa muscular.
A alimentação após o procedimento cirúrgico sofre uma redução bastante considerável. Nas cirurgias disarsortivas ou mistas há maior deficiência de macronutrientes, principalmente de proteínas, seja pela menor ingestão ou pela menor absorção. É importante destacar que a necessidade proteica no período pós cirúrgico imediato torna-se ainda maior, pois há maior catabolismo.
Infelizmente, muitos pacientes não priorizam as proteínas em suas refeições, seja pela maior dificuldade de mastigação (principalmente as carnes) ou pela saciedade que esse macronutriente produz. Com uma demanda aumentada e um consumo muito baixo, a inadequação de proteína pode causar vários problemas, destacando-se a perda excessiva de massa magra, queda acentuada do cabelo, redução da imunidade e enfraquecimento de unhas.
É importante ressaltar que as proteínas de origem vegetal apresentam menor quantidade de nitrogênio quando comparadas às de origem animal. Sendo assim, os indivíduos vegetarianos, principalmente os veganos, precisam de um acompanhamento ainda mais cuidadoso com relação a esse aspecto.
Segundo as recomendações mais atuais para pacientes submetidos à cirurgia bariátrica, a ingestão de proteínas deve ser de 60 a 120g/dia, sendo indispensável a priorização de proteínas de alto valor biológico (proteínas completas, que contém todos os aminoácidos essenciais em quantidades e proporções ideais para atender às necessidades orgânicas). Para atingirmos esta recomendação, precisamos fazer uso de suplementos proteicos, pois a quantidade de proteína ingerida só através das refeições é muito baixa, principalmente nos primeiros 6 meses de pós operatório.
São várias as opções de suplementos proteicos no mercado. Qual indicar? Qual o melhor? Recomenda-se o desenvolvimento de estratégias que visem a complementação proteica com preparados de alto valor nutritivo, fácil digestibilidade e boa aceitabilidade pelos pacientes. Encontramos várias opções no mercado: o whey protein, a caseína, a albumina, o isolado proteico de soja e proteína de ervilha ou arroz (opções para veganos).
Primeiramente precisamos avaliar o custo x benefício. Não adianta escolhermos o suplemento mais caro do mercado se o paciente não terá condições de adquiri-lo. Outro fator importante é o sabor, pois muitos apresentam dificuldades em consumir o suplemento proteico indicado, queixam-se de náuseas, podendo desenvolver até mesmo aversão alimentar ao produto. O nutricionista deve sempre oferecer alternativas bem como formas de preparo diferenciadas para facilitar o consumo.
O Whey Protein, em comparação ao outros suplementos, é o de melhor absorção e o que promove maior saciedade. Possui maior teor de aminoácidos de cadeia ramificada (importantes para prevenir a degradação do tecido muscular) e não possui lactose. Alguns estudos também destacam que o consumo de whey tem efeito estimulante do sistema imunológico.
O uso do Whey baseia-se na propriedade das proteinas do soro não sofrerem alterações conformacionais pelos ácidos estomacais. Ao atingirem o intestino delgado são rapidamente digeridas e seus aminoácidos absorvidos , elevando rapidamente a concentração aminoacídica do plasma e estimulando a síntese de proteinas nos tecidos.
Outro aspecto importante a ser avaliado é o tipo de whey que vamos prescrever. O Whey protein isolado é mais puro e concentrado, contêm 90% ou mais de proteína e pouca ou nenhuma lactose e gorduras. O Whey protein concentrado possui entre 29% e 89% de proteína, dependendo do fabricante. A medida em que a concentração de proteína diminui, aumenta a de gorduras e/ou lactose. O Whey protein hidrolisado tem mais cadeias proteicas quebradas em peptídeos, sendo uma fonte proteica de qualidade, e geralmente causa menos reação alérgica.
Outro fato importante ao se pensar em suplementação proteica, além do período mais crítico após a cirurgia, é a suplementação dos pacientes que fazem programas de atividade física para ganho de massa muscular.
A base metabólica para o ganho de massa em músculos esqueléticos consiste no equilíbrio entre a síntese protéica e os exercícios de resistência muscular que resultam em ganho metabólico e crescimento muscular. A disponibilidade de aminoácidos proveniente da dieta é fundamental neste processo. Torna-se necessário o suplemento alimentar que forneça este aporte de aminoácidos para favorecer então o ganho de massa muscular. A ingestão no período de treinamento de frações isoladas de soro de leite resulta em síntese muscular aumentada. Logo, seu uso também é recomendado para esta finalidade.
Dra Loraine de Moura Ferraz, é nutricionista e integra o Núcleo de Saúde Alimentar – COESAS – da SBCBM