A cirurgia metabólica teve sua eficácia reconhecida, em 2017, pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), e ainda gera algumas dúvidas entre profissionais da saúde e pacientes. Uma das mais comuns é quem deve recorrer a ela. O assunto foi um dos temas abordados no Núcleo de Saúde Médica, no XX Congresso Brasileiro de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, promovido pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM).
O procedimento realizado nas cirurgias bariátrica e metabólica é basicamente o mesmo. A diferenciação entre ambas surgiu recentemente, após a constatação de que a cirurgia bariátrica tem efeitos mais amplos do que se imaginava. “Nós víamos que nossos pacientes, com alguns dias de pós-operatório, tinham um controle bastante importante da diabetes tipo 2”, explica o cirurgião Luiz Vicente Berti, vice-presidente da SBCBM.
Logo, percebeu-se que o intestino tem uma função muito mais ampla do que se imaginava. “O intestino não é simplesmente um órgão de excreção”, esclarece Berti. Segundo ele, hoje ele é reconhecido como o maior órgão endócrino do corpo humano. “Quando nós, cirurgicamente, alteramos essa engenharia no nosso corpo, nós vimos que não só se controlava a obesidade, mas se controlava pressão, diabetes, gordura do fígado e uma série de outras doenças. Isso nos levou a ver que a cirurgia não era só bariátrica, peso, pressão. Ela era metabólica, ou seja, a gente conseguia controlar uma série de outras doenças”, explica.
Mas quem pode recorrer a ela? Segundo as normas da resolução número 2.172/2017, do CFM, podem recorrer à cirurgia pacientes com diabetes tipo 2, IMC entre 30 e 34,9, entre 30 e 70 anos, entre outros pré-requisitos. Mas embora exista um perfil pré-estabelecido, é essencial que o paciente procure por especialistas para avaliar sua situação específica.
É o que explica o endocrinologista Mario Carra, presidente da Abeso. “ Temos vários tipos de diabetes e é preciso saber se o diabético ainda produz os hormônios do diabetes, se o diabetes dele não é inflamatório”, exemplifica. “Por isso existe um critério de indicação da cirurgia”.
Após o procedimento, Carra explica que os cuidados são muito similares aos dos pacientes da cirurgia bariátrica. “São duas doenças que não se curam, nem diabetes, nem obesidade. Elas têm que ser fiscalizadas sempre. As pessoas que se submetem a essa tratamento imaginam que a doença se encerrou ali. Mas isso não é verdade, eles vão ter que ficar se cuidando a vida toda”.
O médico Marcio Mancini, chefe do grupo de obesidade do Hospital das Clínicas da faculdade de medicina da USP, também ressalta a necessidade de um comprometimento permanente com o tratamento.
“As mudanças comportamentais e de estilo de vida fazem parte desde o tratamento cínico, porque o tratamento clínico não é só tomar remédio, normalmente o paciente deve passar pelo nutricionista, deve iniciar atividade física e o remédio é um complemento para ele ter uma adesão melhor no tratamento. No pós-cirúrgico a mesma coisa”, explica.
Segundo ele, o comprometimento do paciente é determinante para o sucesso dos procedimentos. “O paciente que evolui melhor é o que vem sendo acompanhado pelo endocrinologista, que resolveu que a melhor coisa para ele, naquele momento, é fazer a cirurgia bariátrica”, explica.
“Ele vai mais preparado, sabendo que ele vai tomar vitaminas o resto da vida, que ele está trocando um tipo de vigília por outro tipo de vigília”, afirma. “Os paciente que voltam a ganhar peso são aqueles pacientes que vão operar achando que a cirurgia é a solução de tudo”.
Por isso, o trabalho de uma equipe multidisciplinar é essencial – e foi uma das prioridades da organização do evento.
“Hoje, temos certeza de que a obesidade não tem cura, tem tratamento, e todos os profissionais que participam deste Congresso estão trocando as suas experiências, botando a ciência junto lado a lado da experiência”, ressalta Berti, que também faz parte da organização do XX Congresso Brasileiro de Cirurgia Bariátrica e Metabólica.