O primeiro Barilive de 2019, programa de iniciativa da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), voltou ao ar nesta quinta-feira (21), reunindo o presidente da entidade e cirurgião bariátrico, Marcos Leão; o cirurgião e ex-presidente da SBCBM, Luiz Vicente Berti e a endocrinologista especialista em diabetes, Sylka Rodovalho.
O assunto em pauta é o tratamento da obesidade e do diabetes tipo 2 – que ocorre quando a produção de insulina é insuficiente ou age de forma ineficaz no organismo. Segundo Sylka, entre 80% e 90% dos pacientes diabéticos têm o tipo 2.
“Existe a hereditariedade e aparece com o decorrer da idade, principalmente em pacientes com sobrepeso, má alimentação e que não têm o hábito de praticar atividades físicas. No tratamento, precisamos cuidar do que levou o paciente a ter a diabetes e, em 80% dos casos, é a obesidade”, explicou a endocrinologista.
A doença é silenciosa e, geralmente, o diagnóstico só aparece cerca de sete anos após o paciente desenvolver o problema.
A redução de peso melhora uma série de doenças associadas, como a hipertensão arterial, a falta de ar, os problemas articulares e também o diabetes. “Quanto mais pesado o indivíduo, maior o risco de desenvolver o diabetes tipo 2. Percebemos que aquelas pessoas muito pesadas, que perdiam muito peso, apresentavam uma melhora no diabetes”, explicou Marcos Leão. “Com o tempo descobrimos que a cirurgia bariátrica não envolvia apenas comer menos e emagrecer, mas que têm muitas coisas conexas: os hormônios, os ácidos biliares e o aumento do número de bactérias que vivem no intestino, e, tudo isso contribui para a remissão do diabetes. Então nasceu a cirurgia metabólica”, disse o presidente da SBCBM.
Cirurgia metabólica
Desde 2017, a cirurgia metabólica é indicada no Brasil para o tratamento de Pacientes com Diabetes Tipo 2 , que não obtém o controle da doença com o tratamento clínico, mesmo sem ter um sobrepeso muito significativo – IMC entre 30 e 35 kg/m².
O diabetes aumenta as chances do paciente ter problemas do coração – como derrame, cegueira e dificulta a cicatrização, entre outras comorbidades.
“Vejo a cirurgia num aspecto muito positivo e um resultado bom no tratamento do diabetes e de outras doenças associadas. Nos casos em que o paciente tem IMC acima de 35 e 40 kg/m² não há dúvidas de que a cirurgia é uma possibilidade de tratamento, já que o diabetes é ligado ao excesso de peso. Quando o paciente não tem tanto peso, é necessário avaliar outros quesitos, como o histórico familiar, como ele desenvolveu o diabetes e se começou a tomar insulina de forma precoce”, disse Sylka.
Berti lembrou que o IMC é uma medida que nem sempre define a saúde do paciente. Segundo ele, m lutador, por exemplo, pode ter IMC alto devido a quantidade de massa magra e não de gordura. “Nós sabemos que o Índice de Massa Corporal não diz se o paciente tem mais possibilidade de ter infarto ou outras doenças, é uma medida”.
O excesso de gordura é de extrema importância para definir se o paciente pode ou não operar. “Temos que separar o que é IMC e o que é gordura, ver como é essa obesidade. Quando temos um paciente que não tem IMC tão alto, mas que tem bastante gordura acumulada no abdômen e doenças associadas como diabetes, hipertensão, triglicérides, apneia do sono e etc, temos que olhar ele de outra forma e não categorizá-lo apenas pelo IMC”, afirmou Marcos Leão.
Tratamento clínico
Outra questão importante é a forma como o paciente responde ao tratamento clínico e se comporta em relação aos medicamentos que precisa usar. “Se o doente já usou uma infinidade de drogas – o diabetes do mundo real – quando ele esquece de tomar o remédio, quando falta dinheiro a primeira coisa que corta é o remédio, come doces e não faz exercícios. A cirurgia tem o poder de promover essa perda de peso de forma mais brusca e ‘educar’ esse paciente difícil”, afirmou o cirurgião.
“Hoje no tratamento clínico temos muitas novidades. O maior problema é a questão na aderência, já que o paciente não sente nada e não sabe as complicações que a diabetes pode causar”, lembrou a endocrinologista.
O Conselho Federal de Medicina determinou, inicialmente, que o bypass gástrico deve ser a cirurgia indicada para os pacientes com menos peso, mas que podem fazer a operação devido às doenças associadas. Caso não seja possível realizar o bypass, a gastrectomia vertical deve ser a segunda opção.
O procedimento é o mesmo da cirurgia bariátrica, porém tem a remissão das doenças associadas como objetivo principal. “Estudos com maior número de pacientes mostraram resultados melhores com a utilização do bypass”, afirmou Marcos Leão.
É importante que após a operação, assim que o paciente enquanto estiver com a saúde em boa qualidade, introduza em sua rotina a prática de exercícios físicos e a reeducação alimentar, o que garantirá a eficácia da operação por mais tempo, com mais qualidade de vida e longevidade.
O Barilive será transmitido todas as quintas-feiras, às 20 horas, na página do Facebook e do Instagram.
Na próxima quinta-feira (28) o Barilive abordará o tema “A obesidade e doenças do coração”.