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A Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) reuniu cirurgiões, sob mediação de Luiz Vicente Berti, para discutir a cirurgia bariátrica pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Barilive desta terça-feira (3).

Dos mais de 206 milhões de brasileiros, 1,6 milhão (0,8%) apresenta obesidade grave, de acordo com dados apresentados pela cirurgiã bariátrica Galzuinda Maria Figueiredo  Reis, médica cirurgiã bariátrica que também trabalha na área de gestão em Minas Gerais. Além disso, mais da metade da população está com peso acima do recomendado e 18,9% são considerados obesos.

Do 1,6 milhão de obesos graves, 75,5% são pacientes do SUS, que hoje ainda apresenta dificuldades de acesso dessas pessoas à cirurgia bariátrica, agravando o risco de novas comorbidades e complicações futuras. “O grande desafio no SUS é aumentar o número de cirurgias e diminuir o tempo de espera para cirurgia, que hoje pode demorar anos”, comentou o cirurgião Elias Ilias, que atua na Santa Casa de São Paulo.

A fila de espera para a cirurgia bariátrica no sistema público é uma das principais queixas dos pacientes. De acordo com Elias Ilias, a fila em São Paulo já chegou a 7 anos e não era incomum que pacientes que estavam na espera da operação já tivessem operados pela saúde suplementar ou que tivessem falecido enquanto aguardavam o procedimento.

“O paciente precisa ser observado em todos os pontos. O problema é que não existe integração dos setores e o paciente fica perdido na rede. O ideal seria uma integração e um sistema de regulação”, comenta Galzuinda, que cita a Central de Regulação de Ofertas e Serviços de Saúde (CROSS) do Estado de São Paulo, responsável pelo cadastro de pacientes e encaminhamento para serviços especialistas e de referência. Com o sistema de regulação, a fila de espera em São Paulo caiu para 2 anos, comenta Elias.

O mediador Luiz Vicente Berti levantou a questão sobre as doenças relacionadas à obesidade e que geram custos para a saúde pública e que poderiam ser evitadas caso a cirurgia bariátrica recebesse mais investimentos.

“A gente quer que o governo entenda que se ele investir nisso, vai ficar mais barato para o sistema de saúde. Se o paciente operar e emagrecer, ele deixa de fazer cirurgia cardíaca, não vai ter amputações, não coloca stent [endoprótese expansível que é colocada dentro de uma artéria para evitar a obstrução dos vasos sanguíneos]. Você paga três cirurgias bariátricas com um stent”, afirma Elias. O cirurgião menciona o sucesso do governo inglês que reduziu o IMC recomendado para a cirurgia bariátrica para 30, visando evitar gastos à longo prazo.

Pós-operatório pelo SUS

Uma das internautas que acompanhava o debate pelo Facebook declarou estar com dificuldades de conseguir acompanhamento com a equipe multidisciplinar após a cirurgia bariátrica pelo SUS.

De acordo com Galzuinda, a portaria do Ministério da Saúde estabelece que a equipe do hospital deve acompanhar o paciente durante 18 meses e depois o paciente pode ser acompanhado na Unidade Básica de Saúde.

“O problema é que quando recebe alta, o paciente não encontra suporte desses profissionais para continuar o tratamento. É então que temos o caso de recidiva de peso e complicações nutricionais”, destaca a cirurgiã. “A gente sabe que a cirurgia bariátrica é 40% do resultado. O que vem depois tem muita importância”, apontou Berti.

Outro ponto discutido durante o Barilive é a cirurgia plástica reparadora. Diferente dos planos privados, que preveem apenas uma cirurgia plástica, o SUS estabelece até cinco reparadoras, inclusive a mamoplastia. Porém, o valor de financimento destinado aos cirurgiões é muito baixo.

“O valor pago por uma cirurgia plástica está em torno de R$ 350 a R$ 500 e dificilmente se encontra profissionais que farão uma cirurgia por esse valor. Então também existe uma demanda reprimida para a cirurgia plástica reparadora, embora o código esteja no SUS”, esclarece Gazuinda.

Saúde Suplementar x Saúde Pública

Em 2017, foram realizados 55.149 procedimentos cirúrgicos bariátricos na Saúde suplementar, segundo dados Agencia Nacional de Saúde (ANS). No SUS, foram realizadas 10.089 operações em 2017, número bem inferior ao realizado pela saúde suplementar, embora esta seja responsável pela assistência médica de apenas 24,5% da população brasileira, sendo essa a taxa de cobertura da saúde suplementar no Brasil atualmente.

Em 6 de março de 2017, houve um grande avanço na cirurgia bariátrica pelo SUS, com a publicação da incorporação, pelo Ministério da Saúde, do procedimento por via laparoscópica no SUS. No entanto, por questões de financiamento do procedimento laparoscópico, ainda não foi observada incorporação efetiva desse procedimento no SUS. Tal afirmação pode ser comprovada com produção de apenas 270 procedimentos por via laparoscópica em 2017 no sistema público.

 Enquanto na cirurgia videolaparoscópica são feitas mini-incisões de 0,5 a 1,2 centímetros, por onde passam as cânulas e a câmera de vídeo, na cirurgia aberta – que ainda predomina no SUS –, o médico faz um corte de 10 a 20 cm no abdômen do paciente. E importante destacar a recuperação mais rápida do paciente, com retorno mais rápido ao trabalho.

Entre os estados que mais realizam a cirurgia bariátrica pelo SUS estão o Paraná, com 47%; São Paulo, com 20,2%, Minas Gerais, 8.7% e Espírito Santo 6,8%. Juntos, eles fazem mais de 82% das cirurgias bariátricas pelo SUS no país.

 

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